Gestão de fazendas na prática: inventário de dados e de pastagens

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Gestão de fazendas na prática: inventário de dados e de pastagens

Publicado em 21/03/2023

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Na postagem anterior, comentamos um pouco sobre a ideia muito difundida no campo de que a pastagem é um recurso barato. Aqui na AgroHUB, costumamos dizer que,  o produtor já está com esse recurso lá, isto é, ele já foi pago.  Porém, se esse recurso for mal gerido, será necessário comprar grãos ou outros tipos de alimentos, para garantir a engorda do rebanho. Com isso, questões envolvendo a disponibilidade dos insumos no mercado, o preço, a logística, entre outras coisas, podem impactar diretamente na margem do produtor. Dessa forma, quando o produtor consegue ser mais eficiente na utilização da pastagem, isso acarreta um grande impacto positivo nos negócios. 

Além de melhor utilização do pasto, um ponto essencial quando falamos de gestão de fazendas é o conhecimento real sobre a sua área e suas características. 

A seguir, falaremos um pouco sobre o inventário de dados e de pastagens. Continue a leitura. 

Inventários de dados e de pastagens, o que são?

De forma sintetizada, inventários de dados e de pastagem representam o mapeamento e a descrição completa e detalhada das áreas da sua fazenda e dos recursos que sua propriedade disponibiliza, como equipamentos, maquinário e insumos.

Mas na prática, como e por que é importante realizar os inventários?

Durante muitos anos, era comum chegar em uma propriedade e o local não contar com nenhuma forma de mapeamento da área, planta ou descrição. Mesmo com tanta evolução tecnológica e de georreferenciamento que temos hoje, ainda sim vemos muitas propriedades que não disponibilizam esses recursos. Independentemente do porte ou sistema de produção da propriedade, a criação do mapa ou planta da fazenda é indispensável. Sem uma planta, não é possível olhar para a fazenda como um negócio, por menor porte que ela tenha.  A partir do mapa é possível ter uma visão espacial da logística do local e, com isso, poder planejar ações, inclusive o hábito de pastejo, visualizando a área de locomoção do rebanho e entendendo a lógica de direcionamento dos animais. 

Abaixo, você confere um exemplo de mapa de uma propriedade.

 

Com isso, a partir do mapa, você tem as subdivisões dentro da fazenda. Em termos práticos, primeiro é preciso fazer a separação das áreas de pastagens, numerar e nomear. Isso pode ser feito em uma planilha. 

Confira um exemplo de como mapear as áreas da fazenda na planilha abaixo: 

Na planilha, primeiramente, cria-se uma coluna à esquerda com as áreas da fazenda, identificadas por números ou os nomes definidos por você, pois isso facilita a organização das informações. Na coluna seguinte são especificados quantos hectares têm cada uma dessas áreas.  

É preciso levar em consideração que, em uma área de pasto pode haver espaços que não são aproveitados como pastagem, por exemplo, áreas com afloramento de rochas, ou mesmo uma moita com alguma planta invasora, ou uma grande erosão que, em épocas chuvosas pode virar uma lagoa, entre outras coisas. Lembre-se que, para a realização de um trabalho de gestão, essas etapas de mapeamento e caracterização das áreas são indispensáveis.  

 

Dentro deste contexto de pastagens, entra um termo chamado AEP – área efetiva de pasto, medida em percentual. A AEP refere-se à dimensão da área dentro do pasto que possui forragem. Ou seja, retrata a área de pastagem disponível e com acesso e consumo dos animais. Se você tem interesse em saber sobre esse tema, com mais profundidade, acesse o artigo publicado no blog Pasto com Ciência: Área efetiva de pasto – Do conceito à prática. 

A definição dessa área pode ser feita de duas formas: estimada, isto é, quando você analisa visualmente e determina um valor aproximado de área efetiva; ou de forma precisa, por meio de uma medição da área com GPS, extraindo os espaços que não possuem utilização. 

Abaixo, você confere um exemplo da organização dessas áreas na planilha. 

 

Após esses mapeamentos, é possível visualizar cada espaço de pastagem em hectares e quais serão descontados, também em porcentagem, avaliando, com isso, a área efetiva de pastagem em hectares. Com isso, é possível olhar para a fazenda como um todo e começar a geri-la como um negócio rural. 

Após fazer essa separação e organizá-las na planilha, o próximo passo é saber qual a espécie de capim tem em cada área.

 

Um questionamento muito comum nas fazendas é: por que utilizar diferentes espécies de capim em uma mesma propriedade?

O primeiro ponto a se atentar é: espécies diferentes têm hábitos de crescimento igualmente diferentes e essas características individuais ajudam a compor um plano anual de alimentação do rebanho. Por exemplo, em um período de transição para águas, quando começam as primeiras chuvas, um capim Braquiarão só começará a brotar efetivamente após 50 dias. Já um capim do tipo Andropogon, que é um capim de deserto, originário da África, logo com as primeiras chuvas ele já consegue brotar e, caso as chuvas persistam, se desenvolve rapidamente e com 15 dias já é possível disponibilizar a área para pastejo. 

Em compensação, apesar do Andropogon se desenvolver com facilidade na chuva, quando começa o outono, por volta dos meses de março e abril, ele seca totalmente e desaparece. Já o Braquiarão, dependendo do que foi deixado de massa de forragem remanescente, ele permanecerá se desenvolvendo até meados de julho e agosto. Com isso, é possível fazer uma compensação de áreas, planejando um sistema de alimentação onde se tem um pouco mais de estabilidade ao longo do ano. Quando falamos das diversidades de espécies, é preciso se atentar não só em relação ao capim de arrancada ou um que traga uma folga maior quando começa a seca, mas também ao tipo de solo adequado para cada um. 

Dessa forma, a diversidade dos tipos de capim auxilia o produtor a ter, parte de um capim de arrancada, parte de um capim de produção mais tardia. Nesse ponto, é importante que o produtor conheça as especificidades de cada tipo de capim. 

 

Resumindo o que falamos até aqui, o que é necessário nesse momento é:

  • 1º – Ter uma planta da fazenda com as especificações de área, além disso, realizar os descontos das áreas que não são aproveitadas para pastejo e assim, conhecer a AEP – área efetiva de pastagem.
  • 2º – Conhecer quais as espécies de capim têm em cada área demarcada. 

 

De maneira geral, o que notamos na maioria das fazendas, é uma despreocupação ou mesmo desconhecimento em relação ao tipo de capim e sua relação com a terra em que será plantado. Analisando o método de formação e espécie forrageira adequada. Na maioria das vezes, a compra do capim é feita pensando na “maior produtividade” sem pensar na sua aplicação. O que é um grande erro. 

De modo geral, as áreas selecionadas para a pastagem, na planilha, agrupamos em módulos, onde são nomeados e separadas as áreas pertencentes àquele módulo. Dessa forma, é feita a somatória das áreas efetivas de pasto. 

Outras informações que podem estar contidas na planilha e que irão auxiliar no planejamento são: altura do pasto em cm, plantas invasoras e a espécie, percentual da área com a invasora e, em uma avaliação mais técnica, o tipo de controle adotado para aquela área. 

Avançando um pouco no entendimento sobre as áreas de pastagens, tendo como base as áreas mapeadas e o tipo de capim em cada área, um ponto importante diz respeito aos tipos de pastejos, que veremos na próxima postagem onde abordaremos sobre o manejo de pastagem. Até a próxima!

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